quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

É NATAL


NATAL OUTRA VEZ / Dezº. 2009

« A arte está morta –ouve-se já dizer. É uma forma de se afirmar que o sagrado morreu. Não morreu. Como não morre a arte, sua morada mais visível. E para o sabermos, que outra razão mais radical do que a de que o homem continua?» Vergílio Ferreira (Pensar )

Sonhei que não tinha dinheiro. Para prendas, para nada. Nem chavo. Assim as coisas teriam de passar obrigatoriamente por este lado: cumprir o ritual natalício com mais palavras. Mas já há palavras a mais. Foi até para tal fim que se inventaram os telemóveis: para manter as pessoas “contactáveis”. Facto que, a ser levado a sério, nos exigiria outro tratamento ao desprezado sentido do tacto. Adiante.

Mas como acastelar conjuntos de adjectivos, visitar algumas metáforas alusivas à quadra, perder também o meu pedaço de sensatez, embarcando, enfim, nesta voragem de rodopios mais ou menos carnavalescos, de luzes, de fatiotas, de fitinhas a reluzir em todas as esquinas, por dentro e por fora das nossas almas? Fico sempre despudorado, com a sensação de quem partiu, por querer, a asa de um anjo, retirando-lhe, desta feita, a oportunidade de cantar na Missa do Galo ou de convocar, por essa noite fria, os seus pastores, para o dever de ofício que os canteiros lhe deram, impondo-lhe os cânticos celestiais, as glórias e os hossanas que os homens organizados de hoje, tão dados a essa trapalhada confusa, mas utilíssima, a que chamam «markting», traduziram para a linguagem das novas tecnologias –o latim passou, é língua morta –o “english” dos supermercados, dos shopings, onde há um deus em cada prateleira, nunca escondido mas ali mesmo, generoso, à vista, se não mesmo em promoção, em carne e osso, um deusão a sério e não de plástico como também há muitos “made in China”.

Que é o chamado “espírito de Natal”? O amor da e à família? Não me gozem. Lá no fundo, bem no segredo do nosso íntimo, estamos todos a achar que somos uma data de “tansos”, a gastar presentes inúteis para quem os não merece e faz umas tremendas fitas a recebê-los, quem atravessa o seu deserto das tais «rgandes superfícies» sem aquele requinte que se identifica no ar das mais brilhantes «madamas», loiras recentes de drogaria.

Não convoquemos os pobrezinhos para a nossa mesa de consoada que eles são os novos Profetas, os anunciadores desta nova Aurora, os mais procurados do sistema mediático, Pais-Natais de carne e osso, a que nada falta: travessas de poesia, vestimentas de romagem de amor puro e simples, mais rústico que todos os musgos dos presépios. Esses pobrezinhos, coitadinhos, ficam ricos, nestas alturas, por causa de tanta caridade, de tão boa consciência que escorre por eles abaixo…É por esta época que eu mais os invejo:nunca lhes falta nada por dentro e por fora do coração e fazem com que todos aqueles que, como eu, fingem que gostam muito dos pobrezinhos, se sintam de bem consigo mesmos e sejam ainda um pouco mais felizes.

Pronto. É claro que não vou mais esperar que o tempo sideral, cósmico, racional e abstracto, kronos, o tempo das ampulhetas electrónicas pare e nos devolva um Tempo primordial, solsticial, cíclico e recuperável, favorável, kairos! Só quero que Deus, o Senhor do Ser e do Nada, ou da Crise, da Vida e da Paz, vos faça um só favor, nesta quadra, vos conceda um suave presente: deposite na palma da vossa mão a música do silêncio!

E assim far-se-à uma Nova Luz de Natal.

Um abraço amigo.

José Melo

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

VIAGEM de PÁSCOA


ATENÇÃO , muita atenção

Avisem os vossos Pais e, ou Encarregados de Educação.

Vai haver reunião para os Pais, na Escola, a explicar a viagem, no próximo dia 10.Dezembro.2009, uma, às 19h00 e outra, às 21h00
(para quem não puder estar às 19h00).

É DO INTERESSE DE TODOS NÓS.

PEREGRINAGENS E OUTRAS VIAGENS ...

E como não podia deixar de ser, eis aqui o Professor Melo, em toda a sua plenitude, a abrir-nos o desejo a outras idas.
(passa-se a transcrever:)

Peregrinagens e outras viagens…

E ainda devo um rissol ou um cacho de uvas a alguém? …

Pois há muito boa gente, nestas andanças da educação, que acha (e cá está o “achismo” como a expressão ideológica dominante destes tempos pós-modernos) que isto de visitas de estudo, de sair das quatro paredes da salinha de aula, não dá e é perigoso para os professores…

No burgo da Soares não se pensa assim, felizmente. E toca de zarpar, num belo dia primaveril, por essas Galizas fora, rumo “ao estrangeiro”, para visitar museus “do Home”e “a Casa das Ciências” onde as coisas da mãe-natureza e os seus segredos se transmutam em jogos de brincar, e é possível ver pintainhos a nascer dos ovinhos ou rãs de camuflagem, parecidas com folhas secas ou com pedras, ou mesmo miniaturas de plástico cor de laranja!

E lá fomos, juntos e à molhada, para La Coruña e Santiago –aqui em busca do “camino”, porque se não se vai lá em vida, tem que ser depois da morte (E nessa condição deve dar uma trabalheira dos diabos, com os ossos do esqueleto todos a chocalhar, “choc”, “choc”, pela estrada fora)…

Vimos o encantamento dos olhos de tanta rapaziada, a deparar com aqueles granitos velhos, medievos de Compostela, arregalando-se diante do Obradoiro, fitando a imponência das torres com a mesma admiração daqueles que as demandam a partir de Roncesvales, de onde começa o tramo espanhol do célebre “Camino Francês”! Porque a ideia de peregrinar está-nos na massa do sangue, di-lo qualquer antropólogo de pacotilha, e nós sentimo-lo nestas iniciativas que tantas vezes se tomam ignorando os contornos mais profundos de alcance existencial e metafísico…Tratar-se-á de abrir as portas ao sonho? Ou de fazer com que cada um vá, à medida das suas capacidades, percebendo que o mundo existe para lá da nossa leira, que andamos falhos de lhe tomar o pulso e de alargar horizontes, tal como acontece com os livros, com o cinema, com a arte em geral!

E claro que este ano vamos continuar a explorar o mundo, ou, como nos avisava René Descartes, “ler o grande livro do mundo”. Não para “ver cortes e exércitos, experimentar pessoas de diversos feitios e condições ou nos experimentarmos à nós mesmos”…mas sim para, não só não perdermos o encantamento que é aquela atitude que herdámos de crianças, mas também para acrescentarmos algumas valências de enriquecimento aos nossos saberes/sabores escolares!

Tendo bem presentes estas dinâmicas, propor-vos-emos uma ida a León, em Fevereiro, a seguir ao Carnaval (de dois dias) e outra ida a Santiago de Compostela, para “mirar algo nuevo”, como diria o nossa Eça de Queirós e “temperar” as pernitas com os três últimos quilómetros do “Camino”, entrando assim, ainda que simbolicamente na busca de Sentido que leva tantos milhares de seres humanos a, por uma vez na vida, largarem tudo só por causa desse ideal de “fazer caminho”. Haveremos de conhecer muitas mais histórias e associá-las às jornadas filosóficas do nosso quotidiano. Enamorem-se pelo saber e pela cultura! Até breve e um abraço.

José Melo (Prof de Filo)

a POESIA está de volta

O nosso estimado Professor Melo enviou-nos, para abertura deste mês de Dezembro que nos traz memórias várias, um poema de
JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA.