terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PEREGRINAGENS E OUTRAS VIAGENS ...

E como não podia deixar de ser, eis aqui o Professor Melo, em toda a sua plenitude, a abrir-nos o desejo a outras idas.
(passa-se a transcrever:)

Peregrinagens e outras viagens…

E ainda devo um rissol ou um cacho de uvas a alguém? …

Pois há muito boa gente, nestas andanças da educação, que acha (e cá está o “achismo” como a expressão ideológica dominante destes tempos pós-modernos) que isto de visitas de estudo, de sair das quatro paredes da salinha de aula, não dá e é perigoso para os professores…

No burgo da Soares não se pensa assim, felizmente. E toca de zarpar, num belo dia primaveril, por essas Galizas fora, rumo “ao estrangeiro”, para visitar museus “do Home”e “a Casa das Ciências” onde as coisas da mãe-natureza e os seus segredos se transmutam em jogos de brincar, e é possível ver pintainhos a nascer dos ovinhos ou rãs de camuflagem, parecidas com folhas secas ou com pedras, ou mesmo miniaturas de plástico cor de laranja!

E lá fomos, juntos e à molhada, para La Coruña e Santiago –aqui em busca do “camino”, porque se não se vai lá em vida, tem que ser depois da morte (E nessa condição deve dar uma trabalheira dos diabos, com os ossos do esqueleto todos a chocalhar, “choc”, “choc”, pela estrada fora)…

Vimos o encantamento dos olhos de tanta rapaziada, a deparar com aqueles granitos velhos, medievos de Compostela, arregalando-se diante do Obradoiro, fitando a imponência das torres com a mesma admiração daqueles que as demandam a partir de Roncesvales, de onde começa o tramo espanhol do célebre “Camino Francês”! Porque a ideia de peregrinar está-nos na massa do sangue, di-lo qualquer antropólogo de pacotilha, e nós sentimo-lo nestas iniciativas que tantas vezes se tomam ignorando os contornos mais profundos de alcance existencial e metafísico…Tratar-se-á de abrir as portas ao sonho? Ou de fazer com que cada um vá, à medida das suas capacidades, percebendo que o mundo existe para lá da nossa leira, que andamos falhos de lhe tomar o pulso e de alargar horizontes, tal como acontece com os livros, com o cinema, com a arte em geral!

E claro que este ano vamos continuar a explorar o mundo, ou, como nos avisava René Descartes, “ler o grande livro do mundo”. Não para “ver cortes e exércitos, experimentar pessoas de diversos feitios e condições ou nos experimentarmos à nós mesmos”…mas sim para, não só não perdermos o encantamento que é aquela atitude que herdámos de crianças, mas também para acrescentarmos algumas valências de enriquecimento aos nossos saberes/sabores escolares!

Tendo bem presentes estas dinâmicas, propor-vos-emos uma ida a León, em Fevereiro, a seguir ao Carnaval (de dois dias) e outra ida a Santiago de Compostela, para “mirar algo nuevo”, como diria o nossa Eça de Queirós e “temperar” as pernitas com os três últimos quilómetros do “Camino”, entrando assim, ainda que simbolicamente na busca de Sentido que leva tantos milhares de seres humanos a, por uma vez na vida, largarem tudo só por causa desse ideal de “fazer caminho”. Haveremos de conhecer muitas mais histórias e associá-las às jornadas filosóficas do nosso quotidiano. Enamorem-se pelo saber e pela cultura! Até breve e um abraço.

José Melo (Prof de Filo)

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