No passado dia 5.01.2010 realizou-se a abertura do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social no Auditório da Escola.
Eis aqui duas fotografias e um texto sobre o assunto do Professor Melo:
«…porque a pobreza é uma grande luz que vem de dentro.»
Rainer Maria Rilke diz isto num poema. Não com certeza para fazer a apologia desse estado social ou para trazer a terreiro o célebre “Sermão da Montanha” que contém as evangélicas Bem-Aventuranças. Ou talvez. “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino do Céu”. Porque “ser pobre” é ser disponível, aberto a um mundo de possibilidades infinitas de partilha, de entreajuda, de deixar-se possuir em vez de possuir.
Pois é verdade que na nossa “Soares…” (vou usar um calão com que particularmente embirro)… por vezes, “está-se bem”. Foi o que aconteceu na tarde do último dia 5 de Janeiro. No Anfiteatro Grande houve plenamente “ESCOLA”. Pela sessão ou jornada de reflexão, de partilha, de muitas expressões de solidariedade humana. Pelo inconformismo e despertar das consciências jovens e menos jovens para as grandes questões humanas e para a urgência de todos lutarmos contra a indiferença. Porque, em escala planetária, a fome existe, a exclusão social também e é preciso lutar contra elas. Por isso a Comunidade Europeia lhes dedica este ano de 2010. De luta. Contra. E a EASR, atenta, decidiu dar as mãos e trabalhar em parceria. Para educar de acordo com um currículo mais amplo e abrangente. De acordo com o seu Projecto Educativo, como muito bem salientou o Director Alberto T. Que não é seguramente e só “dar” ou “ter” aulas. Mas muito mais do que isso, é experimentar as complexidades deste mundo na hierarquização dos valores humanos, na tarefa inadiável de optar e decidir por aqueles que, de forma reflexiva e crítica, sempre assumidamente pessoal e livre, melhor garantam o cumprimento da nossa Humanidade.
A música do dueto “Synchronized System”, saída das violas afinadas do Mário e do Tiago, ajudou a transportar a assistência atenta e comprometida, constituída na sua generalidade por alunos, professores e pais, para uma pluralidade de universos culturais, como se de denúncias de todas as injustiças deste mundo se tratasse, com os ritmos das estepes, dos desertos, de montanhas escarpadas ou de vastas planícies deste vasto e pequeno mundo. Os sons musicais são o maior apelo ao inconsciente e enterram o simbólico nas nossas almas até profundidades insuspeitadas. Por isso as palavras certas dos oradores, do presidente da Associação de Pais, Carlos Ramos, do presidente da Associação de Estudantes, Luís Monteiro, que enfatizaram as facetas políticas e sociais inerentes à “fatalidade” da fome e da exclusão e assim deram continuidade e coerência rítmica aos sons musicais.
Desta forma, as palavras de Bernardino Silva, coordenador do Norte da Oikos, uma bem conhecida O.N.G. portuguesa presente em várias paragens de África, Ásia e América Latina, ilustraram fotografias que falavam por si, exibindo o rosto da miséria humana, alastrada a milhões de semi-corpos. Também a responsável da REAPN, Sandra Araújo, traçou as linhas de força do programa deste Ano Europeu contra a Pobreza e a Exclusão. Fê-lo com grande convicção e com clareza no “power point” que apresentou, confiando às escolas portuguesas e aos jovens o apelo e o despertar de uma nova consciência de voluntariado e de cidadania.
Destaco dois momentos desta sessão. Quando Daniel Horta Nova, na sua qualidade de ex-sem abrigo, e actual presidente da Associação de Apoio aos Sem Abrigo, falou da “rua” como da “casa” de muitos homens e mulheres, da fome de um sorriso que qualquer sem abrigo mendiga “por ruelas e calçadas” deste Porto que amamos. Ou quando a aluna do 12º. C3, Sara Almeida, a chegar de um Encontro Mundial de Jovens de Taizé, realizado em Poznam, na Polónia, explicou o projecto curricular de criação de um Pin, no âmbito da disciplina de Projecto e Tecnologias, alusivo ao Ano Europeu contra a Pobreza e à Exclusão Social. Sugestivamente, os alunos chamam a esse objecto artístico “Oitenta/Vinte” que pretende simbolizar os 80% de seres humanos que usufruem apenas de 20% da riqueza disponível no mundo, enquanto 20% da população mundial frui da maior fatia. A Sara falou sem microfone e com voz pausada e firme. Iluminada seguramente pelo elan vital das suas convicções, com voz de quem acredita na força das suas próprias palavras. Explicou os procedimentos técnicos, os passos dados na execução desse trabalho que há-de mobilizar a Europa e os europeus. Apresentou o seu modelo em 3D com um orgulho indisfarçado.
Haveremos de lá chegar. À sustentabilidade e ao desenvolvimento respeitador de direitos e da dignidade da Pessoa Humana. Universalmente. Por enquanto temos de mobilizar as inquietudes, de apontar baterias para o voluntariado, fazer com que os jovens participem mais e sejam mais empenhados. Porque há muitos mundos por e para explorar e muitos caminhos a descobrir. No fim, pareceu-nos que estávamos todos mais pequenos por causa do tanto que nos falta cumprir e fazer pela causa dos outros. Mas a “Soares dos Reis” estará sempre no centro destas Causas. Porque, além do mais, estamos a comemorar os nossos 125 anos! Eis o peso da responsabilidade moral e cívica para todos nós, maiores ou menores herdeiros de um passado que nos obriga a estar acordados.
José Melo (Prof de Filo)
http://flashrede.blogspot.com/
(aqui ao lado, à esquerda, vai ficar o link para as páginas da REAPN)
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