terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

PRIMAVERA

Abraço a todos! Bom Carnaval. José Melo


O QUE É A PRIMAVERA? CHEIRA A QUÊ?


Não, não é o outro lado do Outono, como o Verão o é do Inverno! É muito mais um despertar interno dos sentidos, um rumorzinho de ar quente nas orelhas, umas cócegas de hormonas (os célebres "hormônios" de que falam os nossos irmãos "do lado di lá") que nos trepam pelo corpo acima, agitando a nossa alminha de afectos novos, trazendo-nos muitos sonhos de uma, imensas noites de verão, incitando-nos a cantar, a saltar, a despertar para os invasores perfumes da natureza. Então as raparigas, como elas andam lindas! A pele parece mais macia, mais "mimosa", como se diz lá em cima (esta expressão significa "na minha terra") e faz nascer essas flores fantásticas que são os sorrisos, acompanhados de saltinhos, de gestos gaiatos e de uns modos que acabam por realçar ainda mais as minissaias…as formas redondas…

Eu sei que não estou a ser contido nas expressões: exibo intencionalmente uma linguagem primaveril, quase carnavalesca, libidinal ou "descascada", mas trata-se de condizer com a estação, uma vestimenta a calhar, para predispor o "pessoal" à leitura! O que quero dizer com estas "provocações" é que precisamos de abordar sem tabus os nossos comportamentos diários, apalpar, com palavras, as partes íntimas da vida, fazendo festinhas àquilo que possuímos de melhor: a nossa existência pessoal e a dos nossos amigos. Que nunca é gratuita e exige segurança! Sabemos muito bem como a liberdade quer pulsar dentro e fora de nós, como nos sentimos donos do mundo, como estamos tão longe desses tempos atrás, quando "ainda" éramos segurados pelas mãos dos papás. Mas agora! Quem "sabe" de nós, somos nós! Autênticos, superiores, auto-suficientes, plantados nas alturas do nosso orgulho! Que bom sair daquele estado híbrido de criancinhas quase de leite, sempre a fazer a vontadinha "à mamã".

E agora, ala com a malta, para "a noite", para a praia, para a…curtição! Claro que sim, quando há regras, quando há conta, peso e medida. Sem falsos moralismos nem interdições inquinadas. Mas é preciso saber umas coisas. Não podemos confiar nos outros de maneira igual! Há amigos e "amigos". De tal modo que para fazer a destrinça é preciso ter olho e atenção. Não pode haver ingenuidades…Depois há regras que nos são úteis quanto ao álcool, quanto às drogas, quanto à sexualidade e sua abordagem na nossa idade. Porque não se trata apenas de (não) engravidar ou de apanhar a Sida! Precisamos de saber que há normas éticas de convivência que regulam as relações humanas e também por aí passa a nossa vida sexual: a começar pelo respeito que devemos a nós mesmos, à nossa dignidade. Mas também à dos outros, dos nossos amigos. E nem é necessário ser herói, sábio ou santo para agir e decidir na base de escolhas conscientes!

No nosso tempo de jovens (hoje somos uns "cotas" de barbas brancas, ainda que daquela geração dos "sessenta") havia um poeta, Thiago de Mello, amigo de Pablo Neruda, que dizia, no tempo em que os franceses escreviam nos muros de Paris que "fica proibido proibir", que "só uma coisa fica proibida: amar sem amor!" Oxalá sejamos todos capazes de entender isto. Sem qualquer carga de moralismo ou de imposição. Porque temos que entender uma coisa que nos diz respeito a todos e com a qual todos concordamos, incluindo os nossos papás: a vida é uma aprendizagem constante e o diálogo ajuda a moldá-la: no nosso grupo, na sala de aula, à mesa do café e em casa. Sobretudo por aqui que parece que é onde, com frequência, se fala menos, porque a televisão fala mais.

José Melo (de Filosofia)

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